Álvaro Magalhães
O texto " A vassourinha" caracteriza-se pela insistência num conjunto muito significativo de jogos de palavras e de sons, pelo recurso à aliteração, à rima e às repetições, sobretudo na primeira parte da narrativa. A divisão da acção em duas partes distintas permite a percepção de dois momentos significativos: o antes e o depois da revolta da vassoura. A primeira parte metaforiza a opressão imposta por Dona Senhora (numa alusão à expressão de senso comum utilizada para referir a Ditadura – "o tempo da outra senhora"), o controlo e a vigilância constantes. A segunda parte está associada ao momento da libertação e, com ele, a transformação operada na vida da vassoura, metáfora do povo oprimido, perseguido e subjugado.
"História de uma flor", de Matiilde Rosa Araújo, republicado em 1983 em
A Velha do Bosque, cruza a dimensão simbólica com a histórica. A partir da narrativa centrada na vida de uma flor entaipada e ignorada "num canto escuro da terra", é metonimicamente recriada a História sombria e pantanosa de Portugal durante a Ditadura. O momento da iluminação da flor, numa madrugada primaveril, coincide com a Revolução de Abril, implicitamente referida: «Nas ruas havia flores vermelhas por toda a parte. No peito das mulheres, dos homens, nos olhos das crianças, nos canos silenciosos das espingardas». Mais do que um final feliz, a chegada da liberdade representa o início de um caminho a ser trilhado por todos, tal como sugere a estrutura aberta da narrativa: «E continuaram a caminhar»
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